Conheço um Presidente de uma empresa nacional que fazia discursos duros mas empolgantes. Normalmente de improviso, quando falava não deixava ninguém indiferente. As pessoas que o ouviam podiam ou não concordar. Mas não deixavam de o ouvir. As palavras, mais ou menos duras, mais ou menos motivantes deixavam marca. E raro era ouvir um discurso dele sem sentir a sua liderança, sem ficar motivado, sem querer provar que as mesmas tinham sido sentidas e que podia contar connosco para a sua/nossa luta.
Mas esse Presidente passou a ter os seus discursos escritos. Por outras pessoas. Pessoas que em vez de tentarem passar para o discurso aquilo que era a marca distintiva do Presidente e da sua forma de estar, moldaram-no ao que achavam que ele devia ser. E o Presidente seguiu essa linha. E de discursos com impacto, com palavras por vezes mal escolhidas mas que deixavam marca, o Presidente passou a ter discursos muito bonitos, cheios de palavras muito bem escolhidas, inteligentemente colocadas mas, verdadeiramente, vazias. O Presidente passou de discursos mal formatados mas cheios de conteúdo para discursos ocos. Com uma forma muito estruturada mas sem "recheio".
A forma substituiu o conteúdo. E agora vê-se a audiência a olhar para o lado, apaticamente interessada, sem ligar ao que é dito, sem ficar empolgada com o que é proferido. Os momentos de motivação deram lugar a exercícios de estudo comportamental, onde ninguém ouve porque quer mas porque fica bem ouvir.
O(s) speechwriter(s) domina bem a forma. Domina bem as palavras. Mas esqueceu-se da alma do discurso. Esqueceu-se da alma de quem discursa.
E essa é a base da "arte" de speechwriting. Conseguir redigir um discurso que assente como uma luva a quem o faz. Que consiga transmitir de forma mais estruturada o pensamento do orador. E para isso não se pode cometer o erro de escrever um discurso como se "acha que o orador deveria ser". O discurso tem que passar para palavras "o que o orador é".
É que mais do que uma sucessão de palavras bonitas e bem escolhidas um discurso é uma importante ferramenta de comunicação. E se o mesmo "passa ao lado" de quem ouve, então foi um momento crucial de comunicação verdadeiramente perdido.
Wednesday, December 09, 2009
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