O "Comunicações ou Não" é uma experiência a solo na blogosfera da área da comunicação. Como "tudo é comunicação", apesar de ser um local para reflexão sobre o mercado da comunicação, poderão existir incursões por outras áreas.

Tuesday, August 10, 2010

"5 à Sec" na comunicação?

Partindo da polémica do momento no mercado do Reino Unido, o Salvador considera, e a meu ver bem, que o tema merece ser debatido. Devem ou não as empresas de consultoria de comunicação trabalhar com Clientes controversos, neste caso com países que desrespeitam os direitos humanos?

Apesar de achar que os consultores de comunicação (e as empresas) devem ter consciência social e que, em último caso, podem mesmo assumir a recusa de um determinado trabalho com base numa "objecção de consciência", a realidade é que nunca recusei trabalhar um qualquer Cliente. É verdade que nunca tive pela frente um destes países como Cliente. Também é verdade que o termo "mercenário" (para não falar de outros menos próprios e que não posso colocar aqui neste espaço) já me chegou aos ouvidos várias vezes...

Mas sempre considerei que qualquer Cliente, à semelhança da advocacia, deve ter direito à defesa da sua imagem. E que, independentemente das razões para a crítica, há sempre um outro lado da história. E esse lado também merece ser contado. Isso não implica uma total ausência de sentido moral e ético. Antes pelo contrário.

É que comunicação séria não é cosmética. Não basta maquilhar e retocar os aspectos menos positivos. Comunicação séria implica, muitas vezes, alterações genuínas no Cliente. E muitas vezes a acção da consultoria de comunicação leva a resultados na forma de ser e de estar dos Clientes, contribuindo para comportamentos socialmente louváveis. Basta ver a diferença entre Greenwash e Desenvolvimento Sustentável e o papel da consultoria de comunicação nesta mudança.

E depois há sempre o soberano mercado para penalizar as empresas de consultoria de comunicação que não entendem isto. Não me esqueço que numa empresa do início da minha carreira me davam várias vezes o exemplo de uma empresa de comunicação multinacional que sendo líder do mercado norte-americano aceitou trabalhar com uma instituição religiosa considerada "pouco transparente". Apesar da grande facturação que obteve deste Cliente, a empresa desceu do primeiro para o 10º lugar no ranking deste mercado, pois os restantes Clientes não quiseram ficar associados a esta empresa de comunicação.

Na ganância de trabalhar a reputação/imagem/credibilidade de um grande Cliente a empresa descurou a sua. E isso, no fim do dia (médio/longo prazo), é mais importante que os números que, de manhã (imediato), se apresentam aos accionistas. Ou, coloquialmente, ninguém confia numa lavandaria cujos empregados apresentam nódoas nas suas camisas...

Adenda: Uma excelente reflexão sobre este assunto aqui.

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