Era uma vez um sítio do costume. Que tinha na sua comunicação
a soberba de assumir “sem promoções, talões ou complicações”. Mais, como amigo
do ambiente, reduziram a utilização dos sacos de plástico. Próximo da produção nacional,
diminuiu o prazo de pagamento aos pequenos produtores. E, do cimo da sua
superioridade moral, dava conselhos aos portugueses, de como se deveria
trabalhar mais e melhor, pelo meio criticando todos, especialmente a classe política.
Só que ao sítio do costume não basta sê-lo. Também é preciso
parecê-lo. E ontem caiu por terra mais uma afirmação de superioridade moral. Sem
“promoções ou complicações”? Não vou perder tempo a discutir a possibilidade de
dumping. Não a ponho em causa mas também não vou afirmar seguramente que isso aconteceu
(haverá por aí muito produtor que chorará muito tempo pelos preços promocionais
que “acedeu” fazer). Mas 50% de desconto não é uma “promoção”. É desbaratar. E
em relação a “complicações”, bastará ver o que a PSP tem a dizer sobre os
acontecimentos.
O sítio do costume fidelizou clientes? Aumentou o número de
clientes habituais? Garantiu futuras visitas e compras? Isso é algo que veremos
num futuro próximo, mas confesso que tenho as minhas dúvidas. Uma coisa é
certa. A acção de ontem atirou para o caixote do lixo o posicionamento dos
últimos anos. A próxima vez que ouvir mais uma irritante música a falar mal das
promoções, dos talões e afins, afirmando preços baixos todo o ano, não poderei
deixar de rir. É que as hipocrisias dão-me para isso: Rir.
Como rirei cada vez que ler que o sítio do costume é amigo
do ambiente. Poupar milhões de Euros em sacos de plástico que deixaram de ser
oferecidos para serem suportados pelos clientes reduz, de facto, a quantidade
de sacos de plástico no ambiente. Mas reduz também, e muito, os custos. Porquê
não assumir isso, disfarçando a coisa apenas na enorme amizade que temos pelo
ambiente? É que quem é amigo do ambiente tenta também, dentro do possível,
perceber o que é a comercialização de pesca sustentável. Não manda prender os
activistas das organizações ambientais que a defende (por muito que também não
goste das acções dessas organizações ambientais).
E ser amigo da produção nacional, reduzindo os prazos de
pagamento, é bonito. Mas ser acusado pela produção nacional de estrangulamento
da mesma, com acusações de importações com dumping à mistura, não é contra-senso?
E, voltando à promoção dos 50%, tenho tantas dúvidas que a produção nacional
tenha achado piada ao assunto…
Os donos do sítio do costume continuam a gozar de boa
imprensa (basta ler o que se escreveu sobre a deslocação para a Holanda para
perceber isso). Mas a comunicação começa a dar sinais de desgaste. E as
incoerências e contradições de posicionamento começam a ganhar relevância na
opinião pública (não na publicada). Acredito que, se não forem tomadas medidas
rapidamente (que não a já fatigada entrevista de esclarecimento do Presidente –
recorrente nos últimos tempos), da opinião pública à publicada seja uma questão
de tempo (como se poderá ver nas opiniões públicas de inúmeros jornalistas nas
redes sociais).
As práticas são ilegais? São ilegítimas? Não. Quero
acreditar que não. O que é hipocrisia é manter um discurso de altivez e
superioridade moral sobre os demais e ter uma praxis que desce mais baixo que
muito do praticado pelo mercado. Nestes casos, prefiro aqueles que ou não se
armam em superiores mas que são coerentes entre o que dizem e o que fazem.
(Nota: Como não sou hipócrita, como o sítio do costume, não
vou dizer que vou boicotar o que quer que seja. Há lojas, algumas, de que gosto
muito, produtos, alguns, de que gosto muito e funcionários, alguns, muito
simpáticos dando gosto no atendimento. E estes “alguns” valem muito mais que as
doces hipocrisias dos “outros”).
Wednesday, May 02, 2012
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