O "Comunicações ou Não" é uma experiência a solo na blogosfera da área da comunicação. Como "tudo é comunicação", apesar de ser um local para reflexão sobre o mercado da comunicação, poderão existir incursões por outras áreas.

Wednesday, April 07, 2010

Agitação no mercado da distribuição moderna

Apesar de, actualmente, não trabalhar com nenhuma empresa de distribuição moderna, depois da minha saída da ipsis (que tem como Cliente o Grupo Os Mosqueteiros), hoje já me ligaram alguns jornalistas para saber a minha opinião sobre a notícia do dia: A eventual saída do Grupo Carrefour, com a venda da cadeia de loja Minipreço.

Em primeiro lugar, à semelhança da fonte da Sonae, confesso que fiquei surpreendido com a notícia e é difícil comentar algo que nem o Grupo Carrefou comenta. Aceito que a notícia tenha uma base de verdade (lá diz o ditado: "não há fumo sem fogo") e, tendo em conta a performance do Carrefour internacionalmente, não é impossível que tenha que existir a alienação de activos para a realização de novos investimentos em mercado emergentes.

Supreende-me o caso do Minipreço pois, como o mercado sabe, era uma operação rentável, bem gerida por quadros portugueses. E o Carrefour tinha anunciado que só iria desfazer-se de activos não rentáveis. Mas na intrincada realidade do mundo dos negócios o que se diz um dia, pode ser o contrário no dia seguinte. A ser verdade a notícia nos meios franceses, algo terá mudado na estratégia do Grupo internacional, ou na performance da cadeia em Portugal.

E perguntam-me os jornalistas quem acho que poderá ter interesse na compra da cadeia em Portugal. Neste campo qualquer resposta será mera especulação. No entanto, se algumas casas de research o fazem, também o irei fazer.

Ao contrário do que dizem o Espírito Santo Equity Research e a Caixa BI, não acredito que a Jerónimo Martins seja um potencial comprador. Em primeiro lugar porque, como já foi anunciado, o interesse estratégico deste Grupo está na expansão do negócio internacionalmente, nomeadamente nos países de Leste. Em segundo lugar, porque o aparelho físico das cadeias Pingo Doce e Minipreço têm demasiadas sobreposições geográficas, o que levaria a medidas correctivas ao nível da concorrência que tornariam a operação demasiado onerosa.

Já a Sonae Distribuição poderia ver nesta operação a possibilidade de expansão da sua cadeia Modelo Bonjour. No entanto, pelo que me foi dito por operadores deste mercado, a integração das lojas Carrefour ainda não está consolidada a nível finaceiro, o que obrigaria este Grupo a realizar um aumento de capital numa altura complicada. Isto aliado ao facto da estratégia deste Grupo ter sido sustentada na expansão através de lojas de média dimensão, onde as lojas Minipreço não se enquadram.

Creio que as casas de research se estão a esquecer de um player deste mercado: O Grupo Auchan. Foi referido publicamente que depois da falhada aquisição das lojas Carrefour o capital reservado para o efeito (cerca de 600 milhões de euros) se iria manter, quer para reforçar o investimento no país, quer para quaisquer novas oportunidades que pudessem surgir. O tema não voltou a ser referido mas nada indica que essa reserva de capital não se mantenha.

E o Auchan poderá ter nesta eventual operação a oportunidade de impulsionar decisivamente o crescimento e consolidação da sua cadeia Pão de Açúcar (a que tem dado um novo fôlego nos últimos anos). Simultaneamente, convém não esquecer que a cadeia Minipreço nasceu no seio do Grupo Pão de Açúcar (actual Auchan Portugal), sendo que muitos dos seus quadros superiores sairam deste. Portanto, existem afinidades históricas entre as cadeias.


Não sei se Auchan e Carrefour estarão na disposição de se sentarem à mesa depois das fracassadas negociações de 2007. Também não sei se a notícia da venda do Minipreço é verdade. Mas se estes "senãos" forem ultrapassados, este poderá ser um cenário a seguir com atenção.

(Adenda: Entretanto li esta notícia do Jornal de Negócios que poderá alterar este cenário)

1 comment:

JMO said...

Caro amigo,

Não nos podemos esquecer de um player forte no norte da Europa e para o qual os Minipreço, como a cadeia Alisuper são verdadeiramente caidos docéu: o grupo SPAR.

Vamos ver o que acontece... Mas concordo com a tua análise: Jerónimo Martins e Sonae não me parecem interessados.